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Entrevista ao Maestro Rui Miguel de Araújo e Silva compositor do Hino da Banda da Enxara

A Banda da Enxara com o seu maestro Manuel Vigário e com o Maestro Rui Silva
A Banda da Enxara com o seu maestro Manuel Vigário e com o Maestro Rui Silva

A história musical do maestro Rui Miguel de Araújo e Silva começou muito antes dos palcos e das salas de ensaio. Começou em casa, aos seis anos de idade, guiado pelo avô — uma figura central na fundação da Banda Marcial de Arnoso, onde Rui deu os primeiros passos no universo musical. A tradição filarmónica vivia-se com intensidade no seio da família, e o gosto pela música foi sendo transmitido de forma natural e apaixonada, entre gerações.


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O maestro Rui Miguel de Araújo e Silva iniciou o seu percurso musical aos seis anos, guiado pelo avô, no seio de uma família ligada à tradição filarmónica. Cresceu num ambiente onde a música era vivida com intensidade, como expressão de pertença e união comunitária. Mais tarde, a sua entrada na Banda de Música da Força Aérea marcou um ponto de viragem, permitindo-lhe desenvolver uma identidade artística madura e aprofundar a direcção musical com sentido de missão. Valoriza princípios como a persistência e o propósito, e aconselha os jovens músicos a nunca desistirem, e a manterem sempre viva a curiosidade e a vontade de aprender.


Foi com esse espírito que aceitou o desafio de compor o hino da Banda da Enxara, inspirado pela força comunitária e pela juventude do grupo.


Procurou criar uma peça solene mas dinâmica, que representasse a alma da banda e motivasse os seus elementos a crescer. O hino nasce como símbolo de identidade, pertença e esperança, destinado a unir gerações e a acompanhar o percurso da banda ao longo dos anos. É tanto uma obra musical, como uma afirmação do “nós” colectivo e um testemunho afectivo do papel transformador da música nas comunidades.



Entrevista ao Maestro Rui Miguel de Araújo e Silva


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1. O seu percurso começou com apenas seis anos, guiado pelo seu avô. Que importância atribui ao papel da família e dos primeiros mentores no início de uma carreira musical?


A música sempre teve um lugar muito especial na minha família. Vivia-se com grande intensidade a tradição das bandas filarmónicas, e esse gosto foi-me transmitido de forma natural pelo meu avô e pelo meu pai.


A minha família esteve envolvida na fundação e no crescimento da Banda Marcial de Arnoso, onde o meu avô era uma figura central — era ele quem ensinava praticamente todos os músicos que ingressavam na banda.

Aprendia-se música desde muito cedo para integrar a banda e, de forma natural, eu e os meus irmãos seguimos esse percurso. Aos oito anos já fazia parte da banda, acompanhado pelo meu avô, pelo meu pai e pelos meus primos. Em boa verdade, naquela altura nem se pensava na música como carreira. Era uma paixão, uma forma de estar, algo que unia famílias e comunidades. Levávamos com orgulho o nome da banda e da terra, tocávamos lado a lado com outras bandas e dávamos tudo para sermos melhores.


Era ali que se cultivavam valores como o respeito, a disciplina, a entreajuda. E, com sorte, ainda se ganhava uns trocos — mas, mais do que isso, ganhava-se um lugar, um sentido de pertença. Foi nesse espírito que tudo começou para mim.




2. Depois de passar por bandas filarmónicas, conservatórios, a Banda da Força Aérea e vários cursos internacionais, que momento considera ter sido um ponto de viragem decisivo na sua formação como músico e maestro?


É difícil escolher apenas um momento, porque a minha formação foi feita de várias etapas que se foram ligando de forma natural. Mas, se tivesse de destacar um ponto de viragem decisivo, diria que foi a entrada na Banda de Música da Força Aérea como clarinetista. Foi aí que tive, pela primeira vez, a oportunidade de viver plenamente daquilo que me faz verdadeiramente feliz — a música.


Encontrei um ambiente de exigência, rigor e excelência, onde era diariamente desafiado a crescer. Estive rodeado de maestros e músicos excepcionais, cuja entrega e talento me inspiraram desde o primeiro dia. Foi nesse contexto que deixei de ser apenas um intérprete para alcançar uma maior maturidade artística, com uma identidade mais sólida e uma noção clara daquilo que queria construir. E foi também aí que encontrei o espaço, o apoio e a motivação para seguir um dos meus maiores sonhos: aprofundar a minha formação em direcção musical e, mais tarde, abraçar esse papel com um profundo sentido de missão.



3. O que diria aos jovens músicos que sentem dificuldades ou dúvidas no seu percurso? Que princípios o ajudaram a manter-se motivado e a crescer continuamente?


Aos jovens músicos que sentem dificuldades ou dúvidas, diria antes de mais que é normal. Todos passamos por fases de incerteza, de desmotivação, ou até de frustração. A música exige tempo, dedicação e paciência — e nem sempre o retorno é imediato. Mas é justamente nesses momentos que se constrói a solidez interior que faz a diferença mais à frente.


No meu percurso, houve dois princípios que sempre me ajudaram: a persistência e o sentido de propósito. Persistência para continuar, mesmo quando tudo parecia mais difícil. E propósito, porque sempre soube que a música não era apenas algo que eu fazia — era uma parte essencial daquilo que sou.


Também é fundamental rodearmo-nos de pessoas que nos inspiram e desafiam a ser melhores — professores, colegas, maestros, amigos. E nunca parar de aprender: manter a curiosidade viva, ouvir, observar, estar aberto a crescer em todas as fases da vida.


A música não é um destino rápido — é um caminho longo e belo, cheio de descobertas. E vale a pena.



4. Qual foi a inspiração por trás da composição do hino da Banda da Enxara?


A Banda da Enxara é uma banda jovem, mas já se sente nela um espírito muito forte de comunidade, de proximidade e de família. Esse ambiente tocou-me de forma especial, porque me fez recuar até à minha infância e reviver os meus primeiros passos na música — aquele encantamento puro de uma criança a descobrir os sons, os instrumentos, os ensaios, e a sentir que fazia parte de algo maior. Por isso, ao olhar para a Banda da Enxara, reconheci algo que me é profundamente familiar: o poder que a música tem de unir pessoas, de criar laços e de construir uma história comum.


Foi com essa ligação tão natural e emotiva que abracei o desafio de compor o hino. Quis criar algo com um carácter solene, que espelhasse não apenas a juventude e a energia do grupo, mas também a profundidade dos valores que a sustentam. Abracei esse desafio com o desejo de reflectir essa dimensão afectiva e colectiva: um sentido de construção, de identidade, de pertença. Uma banda jovem como a da Enxara está a escrever as primeiras páginas da sua história, e esta peça pretende ser uma pedra fundadora — algo que ajude a criar raízes, a afirmar o “nós” e a inspirar quem veste aquela farda, hoje e no futuro.


Foi um trabalho profundamente sentido, em que procurei respeitar a alma da banda e transformar em música aquilo que ela representa. Um hino que soe a casa, que una gerações, que celebre o presente, mas que aponte ao futuro com esperança, dedicação e coração.


5. Quais foram os principais desafios enfrentados durante a composição e implementação do hino?


Um dos principais desafios foi precisamente o peso simbólico da responsabilidade. Não se trata apenas de compor uma música — trata-se de criar algo que represente uma identidade colectiva, que seja capaz de unir e emocionar, e que tenha significado real para quem a vive por dentro. Isso exige sensibilidade, escuta e um profundo respeito pela história, pelo presente e pelo futuro da banda.


O equilíbrio que procurei foi entre o que normalmente se espera de um hino e aquilo que senti que a Banda da Enxara precisava: algo que fugisse à rigidez da tradição e trouxesse frescura, movimento, até uma certa irreverência — como o olhar inquieto de uma criança que começa a descobrir o mundo. Queria uma peça com vida, que quebrasse o molde sem perder o sentido de solenidade que um hino deve ter.


Foi um processo desafiante e muito consciente: respeitar a ocasião e a identidade da instituição, sem abdicar da liberdade criativa necessária para espelhar o dinamismo e a personalidade única da banda.


Estava consciente de que aquilo que estava a compor apresentaria alguma dificuldade técnica — e fi-lo de forma intencional. Não quis que fosse imediatamente fácil, mas sim motivador. Quis lançar um desafio, à altura do crescimento que a banda está a viver: que exigisse superação, envolvimento, ambição. Porque o futuro também se constrói com desafios.


No fundo, o objectivo foi esse: criar algo com identidade, com intenção, com profundidade — e, acima de tudo, com verdade.



A minha gratidão à Banda da Enxara por me permitir fazer parte da sua história. Que este hino seja companheiro de uma longa caminhada, cheia de alegrias e sucessos, e que continue a inspirar e a unir todos os que vestem esta farda.



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